O Concurso Bairro Novo foi promovido pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil e pela Prefeitura de São Paulo em 2004, voltado para a construção de um bairro de predomínio residencial, com área de quase 1 milhão de metros quadrados na região da Água Branca, uma antiga área industrial atualmente subutilizada, segregada pela ferrovia, e separada do rio Tietê por suas vias expressas marginais e bastante próxima ao centro da metrópole paulistana. O Bairro Novo seria promovido através de uma parceria entre o Poder Público e a iniciativa privada, a partir da revisão da lei da Operação Urbana Água Branca - OUAB. O Concurso previa a elaboração de projetos urbanos para construção de um bairro inteiro, de predomínio residencial, em área da OUAB. Criada pela Prefeitura no ano de 1995, esta Operação Urbana tinha por objetivo transformar a região numa nova centralidade para São Paulo. Esperava-se atrair investimentos para construção de novos edifícios, sobretudo de escritórios.

Apesar da proximidade ao centro da cidade, da grande acessibilidade por transporte público, da existência de grandes áreas urbanizáveis e da flexibilidade urbanística facilitada pela Prefeitura, a OUAB não promoveu transformações urbanas significativas no local, não obteve o sucesso esperado, pois houve pouco interesse do mercado imobiliário em investir no local. A retração de investimentos do mercado imobiliário naquela região, à época, especialmente devido à concorrência com os empreendimentos semelhantes na Avenida Faria Lima e Berrini (setor sudoeste da cidade), assim como a inexistência de um plano urbanístico para a área da Operação Urbana Água Branca, dificultaram a realização de empreendimentos no local e foram os principais elementos apontados para explicar o seu insucesso.

O Concurso Bairro Novo representou a possibilidade de se fazer uma revisão da lei da Operação Urbana existente e de se definir um “projeto urbanístico” para a área, em uma nova tentativa de se impulsionar o “desenvolvimento” da Água Branca. Identificou-se na realização o Concurso uma mudança quanto ao discurso empregado pelo poder público para empreender intervenções urbanas através de parcerias. Enquanto nas demais Operações Urbanas prevalece a defesa da construção de novas “centralidades terciárias”, supostamente capazes de promover desenvolvimento econômico e social e ter seus benefícios redistribuídos na sociedade, o Bairro Novo fundamentou-se na defesa da construção de um “bairro ideal”, representativo do que seria “viver bem” na “cidade do século XXI”.

A análise crítica do projeto vencedor do concurso permite identificar a apropriação de recursos de desenho utilizados em muitos dos projetos urbanos, principalmente os estrangeiros, realizados nos últimos anos, mas que neste caso foram utilizados sem a devida crítica e adaptação ao contexto.

O Bairro Novo representou uma nova tentativa de se viabilizar o desenvolvimento imobiliário na região. Sem ter conseguido empreender as mudanças desejadas no espaço urbano, a realização do Concurso serviu ao menos à valorização fundiária dos terrenos da Água Branca.